Alguém já disse que a urina do americano médio é a mais rica do mundo. Pudera, com 68% dos adultos nos Estados Unidos utilizando suplementos regularmente, a maioria desnecessária, não absorvida pela mucosa do intestino ou simplesmente eliminados pelos rins, vão-se pelo ralo alguns bilhões de dólares anualmente.
Tipos de suplementos
Há quatro categorias de suplementos à venda no mundo ocidental:
1. Vitaminas e minerais (97% das pessoas nos EUA os usam)
2. Suplementos
especiais (ômega-3/ácidos graxos)
3. Ervas e
derivados botânicos (chá verde, garra do diabo)
4. Nutrição esportiva e controle de peso (20% das pessoas nos EUA).
Suplementos mais vendidos
E estes são os suplementos mais consumidos nos EUA nos últimos anos, segundo a agência independente Consumer Lab (www.consumerlab.org):
Óleo de
peixe – reposição de ômega-3 se mostrou recentemente ineficaz para prevenir
doenças do coração, mas compostos dentro destas cápsulas com ácidos graxos
essenciais como DHA parecem proteger contra alguns tipos de câncer.
Multivitamínicos
– milhares de pessoas foram seguidas por 5 a 10 anos nos EUA e Europa em
estudos científicos rigorosos. Infelizmente nenhum grupo de doenças como do
coração (hipertensão, infarto, derrame), diabetes, reumatismos, doenças
autoimunes e câncer foi prevenido nos indivíduos que usaram complexos
multivatimínicos como Centrum e outros, contra o grupo que usou placebo. A
prevalência de todas as doenças foi a mesma nos dois grupos de estudo.
CoQ10 – o efeito
de proteção cardiovascular parece ser mínimo com este produto, e nem mesmo o
grupo de pessoas com problemas musculares como dores e cãimbras devido ao uso
de estatinas tem melhoras dos sintomas com altas doses deste suplemento à base
de coenzima Q10.
Vitaminas B,
C, D – estas estão presentes na alimentação balanceada do dia-a-dia ou na
exposição solar saudável
Magnésio –
famoso composto em algumas partes do mundo para tratar reumatismos, se
funcionasse os reumatologistas estariam com seus consultórios vazios. O
contrário é observado. Há melhor absorção de cálcio em tratamentos para
osteoporose se o magnésio é ingerido conjuntamente, mas o efeito é discreto
Cálcio –
tomado de forma isolado não melhora a saúde dos ossos e nem trata osteoporose.
Probióticos
– estes estão na moda, e de fato funcionam para evitar disbiose do microbioma
intestinal, ou seja, mantêm a flora bacteriana em funcionamento normal dentro
dos intestinos. As pesquisas estão em andamento, e pouco ainda se pode dizer
com toda certeza da miríade de interações entre microbioma e doenças como
obesidade, depressão, quadros inflamatórios intestinais auto-imunes e tantas
outras.
Segundo pesquisa
publicada pelo periódico médico JAMA em 2013, os americanos consomem suplementos
para melhorar (45%) ou manter (33%) a saúde. Apenas 23% dos produtos utilizados
estavam baseados em recomendação do médico ou profissional de saúde. Adultos em
uso de suplementos também eram os que reportaram estar com excelente saúde, ter
seguro saúde privado, usar álcool de forma moderada, não fumar e exercitar-se
com frequência. Portanto, justamente as pessoas que mais usavam suplementos eram
as que de fato não necessitavam deles! E este fato pode trazer conclusões
equivocadas em qualquer estudo de causa e efeito, muitas vezes algo explorado
em promoções inidôneas na Internet ou por profissionais da saúde com interesses
financeiros excusos. As pessoas da pesquisa certamente tinham melhor saúde
porque toda a sua vida estava orientada para hábitos os mais saudáveis
possíveis, e não porque tomavam vitaminas e suplementos.
De fato,
existe uma percepção entre a população mais esclarecida que, ao tomar uma
vitamina ou suplemento, está se cumprindo o objetivo de repor nutrientes
essenciais e assim melhorar a saúde. Baseados em inúmeras pesquisas sérias, experts
honestos na área da nutrição concordam que não há evidência alguma que isto
seja verdadeiro. De acordo com a Academia Americana de Médicos de Família, há
indicações muito limitadas para se repor vitaminas: vegetarianos ou veganos em
falta de vitamina B12 (a carne vermelha é a única fonte consistente desta
vitamina), gravidez e lactação, e alguma outras situações raras de doenças.
É inequívoco: uma dieta saudável é a melhor alternativa para se obter nutrientes, e não o uso de suplementos na forma de pílulas.
O abuso dos esteróides
Esteróides anabolizantes são variantes do hormônio masculino testosterona produzidos por síntese industrial. O Instituto Nacional de Abuso de Drogas nos EUA estima que mais de meio milhão de estudantes da 8ª à 10ª série de ensino estejam utilizando esteróides em academias. Pelo menos 10% de estudantes no segundo grau relatam uso ilegal de esteróides. Estas drogas estão no chamado Schedule III da lei de controle de Esteróides Anabolizantes desde 1990, aquelas que “têm potencial moderado a baixo de levar a uma dependência psicológica ou física”. Mesmo assim o pré-hormônio DHEA é considerado oficialmente como suplemento alimentar e vendido livremente nas gôndolas de super-mercados como pílula da juventude.
Efeitos colaterais do uso de esteróide são variados, como puberdade precoce, lesões no fígado, acne difusa, perda de cabelo, doença dos rins, infarto do coração, irritablidade, conduta agressiva ou depressão e rico de suicídio.
Controle de peso
A projeção
é que 42% da população adulta americana será obesa ou extremamente obesa em
2030, gerando um aumento dos gastos com saúde da ordem de 150% por indivíduo
afetado (fonte: J Health Economics 31:219, 2012). A indústria das dietas nos
EUA é multibilionária, a maior parte do dinheiro sendo gasto com produtos
ineficazes. E por que suplementos para obesidade podem ser vendidos livremente?
Porque não há necessidade de um suplemento ou vitamina passar por pesquisas clínicas
rigorosas nem publicações científicas de relevância. Ou seja, não há
necessidade do famoso “FDA-aprovado” como selo de qualidade. E basta
acrescentar a seguinte frase na etiqueta do frasco para que o produto chegue à
farmácia sem receita ou ao super-mercado: “Este produto não foi avaliado pelo
FDA e não tem intento de diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer
doença”. Mas na frente o rótulo pode conter qualquer coisa tipo “Para a saúde
da próstata” ou “Apoio à saúde do coração”.
E quem é responsável pela segurança do produto? Apenas o fabricante, não
o governo ou seus órgãos de controle e fiscalização. É claro que a batalha ente
grupos de consumidores organizados e as indústrias de suplementos foi ganha
pelos últimos.
O resultado
disto é que aos 20 anos de idade, 20% das meninas americanas terão usado
pílulas para emagrecimento. Com consequências muitas vezes trágicas, como após
a epidemia de uso dos famosos compostos fen-fen. Estes, de forma insuspeita,
levaram a lesões nas válvulas cardíacas de meninas, com insuficiência e progressão
para morte inexorável – um efeito colateral até então desconhecido daquela
classe de fármacos.
Esta é a frase
original em inglês que você vê por lei nos rótulos de vitaminas e suplementos
alimentares americanos:
“This statement has not been evaluated by the Food and Drug Administration. This product is not intended to diagnose, treat, cure, or prevent any disease.”
Quer ler
mais sobre pílulas e dietas? Veja em http://www.obesityaction.org/educational-resources/resource-articles-2/general-articles/magic-pills-the-marketing-of-dietary-supplements-for-weight-loss.
Mas o que fazer?
No caso de
pessoas normais, sem doenças crônicas, recomendamos o uso de:
–
probióticos como lactobacilos nas suas diversas formas (leites fermentados,
kefir, yogurtes)
– vitamina D com moderação apenas para os que estão pouco ao ar livre, apresentam fotossensibilidade ou vivem em maiores latitudes com invernos prolongados. Na dúvida peça para seu clínico dosar o composto 25-OH-vitamina D3 no sangue
– o componente DHA dos compostos com ômega-3, ácido graxo essencial que tem se mostrado protetor do surgimento de células cancerígenas; boa indicação também na gravidez junto com o ácido fólico, ajuda no desenvolvimento normal do feto e evita parto prematuro; e há melhora modesta de sintomas como perda de memória
– dieta
balanceada com pratos multicoloridos, atividades físicas continuadas e convívio
social com muitas alegrias.
Estamos atentos para este ramo do conhecimento médico e estaremos postando novidades quando importantes. Votos de vida longa sem custos maiores para seu bolso e sem sobrecarregar sua urina com multicompostos químicos.
Seus rins agradecem!