Tag: DOR CRÔNICA

Dores no quadril: causas e tratamentos, com e sem cirurgia

Live 22/agosto, 21h

Tópicos

  1. Anatomia do quadril
  2. Síndrome de impacto
  3. Dor lateral no quadril
  4. Problemas no labrum
  5. Artrose
  6. Fraturas do colo do fêmur no idoso: próteses

O Dr. Carlos Galia é professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Chefe dos Serviços de Ortopedia e Traumatologia do Hospital de Clínicas e do Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre, RS.

Lúpus: mais remédios para controle dos sintomas ou tratar a cuca antes de mais nada?

As proteinas alteradas no sangue do paciente com lúpus: o pico mais à direita está muito aumentado, refletindo a elevação dos anticorpos dirigidos contra a própria pessoa.

Distúrbios do sono e sintomas depressivos podem ser responsáveis por dor e perda de atenção, memória e concentração no lúpus. O tratamento é com Terapia Cognitivo-Comportamental antes de remédios!

Para saber o que exatamente está envolvido na dor e nas alterações ditas cognitivas (como atenção, memória, orientação) do lúpus eritematoso sistêmico (LES), 115 pacientes foram estudados em Baltimore, EUA.

Como foi feito o estudo?

Todos os pacientes preencheram questionário sobre dor, percepção de estresse, depressão, sono e alteração das funções mentais (chamada disfunção cognitiva). Os autores cuidaram para que as conclusões não fossem alteradas pela presença de fibromialgia, raça do paciente, uso de corticóides (remédios que modificam as funções mentais positiva ou negativamente, conforme o indivíduo), atividade da doença e nível de estresse percebido pelas pessoas.

Resultados

Análises estatísticas sofisticadas (neste caso denominadas análises de mediação) indicaram que os sintomas de dor e de funções mentais alteradas foram mediados por distúrbios do sono e por depressão, ou seja, não vinham diretamente do lúpus. Atividade do lúpus (doença sem bom controle) e nível de estresse também estiveram relacionados com variações das funções mentais.

Conclusões

Os autores concluiram que:

1) este estudo deve ser confirmado em maior grupo de lúpicos, observados ao longo do tempo (num chamado estudo prospectivo)

2) a presença de dor e alterações de funções mentais no lúpus pode ser explicada por distúrbios do sono e sintomas depressivos

3) os achados abrem a perspectiva de tratar alguns sintomas do lúpus através de higiene do sono e melhora da depressão, em intervenções que não necessariamente envolvem remédios imunossupressores

4) especificamente, pacientes com lúpus que apresentam dor e disfunções cognitivas (atenção, memória e orientação alterados) poderiam ser tratados com terapia cognitivo-comportamental, recurso comprovado para reduzir estresse e melhorar vários domínios psicológicos do indivíduo.

Referência

Arthritis Care & Research. 04 May 2018. https://doi.org/10.1002/acr.23593

MAIS DE 50.000 MORTOS POR REMÉDIOS PARA A DOR. COMO NÃO SER MAIS UM NÚMERO NA EPIDEMIA DOS OPIÁCEOS? (esta postagem é para você, no desespero da dor)

Há poucos dias recebi o impressionante relato de uma querida paciente, preocupada com o número crescente de pessoas, inclusive jovens, padecendo de reumatismos crônicos e vindo a falecer por complicações de uso de opiáceos (oxicodona, hidrocodona, morfina ou fentanil e derivados) muitas vezes combinados a outras drogas de modulação da dor como anti-depressivos. De fato, apenas nos EUA foram quase 50.000 pessoas falecidas por overdose de opiáceos em 2017.

Minhas reflexões e sugestões para os que estão em situação similar de dor vão adiante, nesta e em postagens seguintes, não deixe de ler e salve vidas. Vamos auxiliar estas pessoas desesperadas que se atiram em clínicas da dor, recebem associações de remédios perigosos e tratamentos alternativos sem chegar ao cerne da questão – tratar corretamente a dor, os reumatismos inflamatórios sistêmicos e as doenças autoimunes com base nos conhecimentos científicos sérios.

Ao relato:

“As redes sociais tornaram a informação mais acessível aos pacientes portadores de reumatismos e doenças da autoimunidade, aproximando pessoas para troca de informações. Estas também trazem más notícias, como quando perdemos amigos de luta contra a mesma doença que temos, no meu caso a Espondilite Anquilosante.

“Entre o final de 2017 e início de 2019 somaram-se os casos em que pacientes em tratamento para a minha doença foram a óbito por motivos medicamentosos.  Ou seja, complicações advindas do uso, prescrito ou não, de medicamentos sobrepostos, ou em quantidades maiores do que as recomendadas. Tudo motivado em primeira análise por desespero ou pânico frente às crises de dor que não cedem. A Carmen foi uma que perdemos para as complicações da espondilite e foi uma morte muito rápida. Ela tinha 27 anos,  era estudante de Biomedicina, diagnosticada com espondilite em 2017,  mas sofria de dores sem diagnóstico desde 2013. Estava em tratamento com infliximabe, metotrexate, morfina endovenosa e antidepressivos, pois as dores eram muito severas, insuportáveis. Ia todos os dias na emergência do hospital tentar alívio com analgesia, o pé entortava, ela não conseguia caminhar. A mãe era enfermeira no hospital, então tinha facilidade no atendimento. Com um ano de uso deste coquetel de remédios sentiu sintomas de gripe e dor na garganta, piorou, foi para o hospital, baixou em UTI, fez SARA (nota minha – SARA se refere a uma síndrome de insuficiência respiratória aguda)  por conta de uma hepatite medicamentosa e em 15 dias de hospital saiu sem vida em novembro de 2017. Claro que o metotrexate e o infliximabe podem ter contribuido para a hepatite, mas até onde o excesso de opióides também ajudou?

“Outro caso foi da minha amiga Geovana, empresária de 44 anos, casada e com um filho de 15 anos. Teve hipotermia severa, levada ao hospital dia 6 de janeiro de 2019 às pressas, com lábios e extremidades roxas. Fez parada cardiorespiratória na mesma madrugada e veio a falecer em 24 horas no hospital. Como era minha amiga e conversávamos muito sobre tratamentos e médicos e medos e remédios, eu sabia que ela fazia uso do imunobiológico Cosentyx para a Espondilite, que não a ajudava muito, pois tinha crises e era muito frágil para dor, entrava em pânico nas crises. Contou no grupo da Internet que queria comprar CDB (tintura de canabidiol) para ajudar na dor, mas usava Tylex, Tramal, fitoterápicos tidos como anti-inflamatórios – cloreto de magnésio e sucupira em cápsulas – e antidepressivos, não sabemos o que mais poderá ter usado junto… tentamos dissuadi-la de adquirir o CDB por conta própria alegando que era produto ilegal, acreditamos que ela nunca chegou a receber, se comprou… enfim, acreditamos que ela superdosou os opióides naqueles dias, pois estava com dores insuportáveis e ia na emergência aplicar morfina na veia.

“Em 1 ano foram quatro os casos de uso de opiáceos e morte só do meu conhecimento, nos grupos de midia que participo. Eu passo mal com os opiáceos, não me vai bem nunca. Prefiro ficar longe. Aliás, analgesia para mim era sempre deprimente, porque meu cérebro entendia que eu estava me enganando… a dor ia voltar, então eu precisava fazê-la não voltar e o caminho não era só atacando a dor…

Porto Alegre, verão de 2019″.

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Em um país com mais de 300 milhões de habitantes como os Estados Unidos chegou-se a perto de 60.000 mortes por overdose de opiáceos em 2018. O Brasil com mais de 200 milhões de habitantes pode estar com números também elevados, mas que não aparecem claramente nos atestados de óbito. Nosso país, é sabido, tem falhas gritantes na parte estatística, ainda mais nas questões de saúde.

O número de mortes por overdose em mulheres entre os 30 e 64 anos de idade cresceu de forma dramática entre 1999 e 2017 nos EUA:

– opióides sintéticos, aumento de 1.643%

– heroína 915%

– benzodiazepínicos 830%

– opióides com prescrição médica 485%

– cocaína 280%

– anti-depressivos 176%.

E por que é tão fácil chegar-se a uma overdose de opiáceos? Pelo fenômeno dito “taquifilaxia”, ou seja, o termo significa que para um mesmo efeito analgésico as doses devem ser cada vez maiores da droga. Em linguajar leigo, o corpo “vai se acostumando” a cada novo patamar de dose, e mais remédio é necessário, em menores intervalos de tempo, para obter-se o efeito inicial em doses pequenas. E então vem o para-efeito letal, a pessoa simplesmente pára de respirar.

De fato, a morte por overdose de opiáceos ocorre por inibição das funções que comandam o ato de respirar no cérebro. A pessoa simplesmente pára de respirar e não sente. O gás carbônico se acumula, o oxigênio se reduz no cérebro e a pessoa “apaga”. Até o coração cessar de bater é questão de minutos.

Conclusões

  1. A epidemia de overdose e mortes por opiáceos é real, você poderá ser a próxima vítima
  2. Converse com seu médico sobre alternativas aos opiáceos, encontre um médico em quem confiar
  3. Verifique se você está sendo tratado pelo especialista médico em sua doença, e não apenas por clínicos da dor ou charlatões prometendo tratamentos alternativos; no caso de doenças reumáticas e autoimunes seu especialista deve ser o reumatologista; troque de médicos se necessário
  4. Não entre em pânico com a dor, evite a automedicação e procure auxílio imediato; aumentar a dose de seus opiáceos por conta própria é um convite ao suicídio indesejado

Veja nas postagens seguintes quais os fatores de risco, como reconhecer e como tratar a crise aguda de overdose por opiáceos.

Referências

https://www.jwatch.org/fw114959/2019/01/11/drug-overdose-deaths-nearly-quadruple-among-women

https://www.jwatch.org/fw114907/2018/12/20/hhs-recommends-coprescribing-naloxone-with-opioids-high

https://www.reuters.com/article/us-usa-opioids-naloxone/fda-panel-votes-for-prescribing-naloxone-with-opioids-idUSKBN1OH2CA

https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/68/wr/mm6801a1.htm?s_cid=mm6801a1_w

Initiating Opioid Agonist Treatment for Opioid Use Disorder in the Inpatient Setting. A. Raheemullah, A. Lembke. JAMA Intern Med, 2019. doi:10.1001/jamainternmed.2018.6749

https://www.drugabuse.gov/related-topics/trends-statistics/overdose-death-rates