As fraudes na área da saúde: como se proteger do charlatanismo disfarçado de medicina alternativa, 1a. parte.

A farsa que aproveita a vulnerabilidade do paciente

O charlatanismo médico se refere a práticas de saúde ou remédios que não têm bases científicas para sua indicação. Está baseado em pretensas teorias que misturam conhecimentos de ciências básicas como imunologia, bioquímica, genética e fisiologia, de forma fragmentada, ininteligível e claramente manipulativa para bons conhecedores, porém que impressionam a potencial vítima.

“Charlatanismo. Ação, comportamento, dito ou prática de charlatão: charlatanice. Exploração da credulidade pública através da venda de produtos e/ou serviços incapazes de curar doenças”. http://www.dicio.com.br

Alguns fatos médicos mais recentes são aproveitados para criar teorias abrangentes que explicariam todos os males, com oferta de produtos pelo próprio profissional ou por seu grupo: extensas consultas, dietas da moda, suplementos infindáveis, cursos para leigos e para outros profissionais, livros e até spas de imersão por vários dias. E a preços muitas vezes exorbitantes, por incríveis séries de tratamento com promessa de curas ou de cessação de todos os remédios.

Assim já ocorreu historicamente com os radicais livres e as extensas fórmulas ortomoleculares, abrindo espaço para os ditos quelódromos – espaços compartilhados em clínicas de infusão endovenosa com múltiplas substâncias quelantes de toxinas e metais. Depois com as chamadas “intoxicações crônicas” vistas no cabelo e suas curas detox. A teoria do “foco infeccioso” na boca, com extrações dentárias múltiplas, retorna após várias décadas até via Netflix, com fortunas sendo gastas em uma assim chamada odontologia holística que exige extrações e implantes a peso de ouro. E, ultimamente, implicando o intestino como criminoso da vez, trazendo uma chamada “remissão das doenças autoimunes” (são mais de 200 distintas!) pelas medicina e  nutrição funcionais.

A trama se aproveita de um paciente que sofre, em estado vulnerável ou terminal. Pessoas desesperadas são aqui a melhor presa. E o princípio de Hipócrates primum non nocere (acima de tudo não lesar o paciente), jurado pelo médico no dia de sua formatura, é esquecido atrás de um livro no consultório.

Pior que a fortuna gasta pelos brasileiros em terapias alternativas e sem embasamento científico sólido é o dano à sua própria saúde, por serem conduzidos para longe de atendimento médico idôneo. Além dos efeitos secundários muitas vezes letais dos tratamentos alternativos. Uma médica gastroenterologista me comentou recentemente sobre o crescente número de casos graves de pancreatite aguda e de perfuração intestinal por altas doses de magnésio e outros produtos em “curas” de doenças autoimunes após megadoses de suplementos, também de vitamina D. Apenas um exemplo de vários que estão surgindo a todo momento.

“É hora de a comunidade científica parar de dar passe livre à medicina alternativa. Não pode haver dois tipos de medicina – a convencional e a alternativa. Há apenas a medicina que foi adequadamente testada, e não a que não o foi”. Marcia Angell & Jerome Kassirer, New England Journal of Medicine, 1998.

Médicos e cientistas dedicam suas vidas  para encontrar tratamentos, seja para cura ou para controle de doenças crônicas como as autoimunes e câncer, com causas ainda desconhecidas.

Ofertas de tratamentos miraculosos para solucionar estas doenças respaldadas em narrativas de que toda a comunidade científica está ‘desatualizada’ ou ‘de má-vontade’  e que só ‘aquele médico, clínica ou nutricionista’ SABE COMO TRATAR e CURAR uma doença reumática, por exemplo, seria negar completamente qualquer racionalidade à abordagem da questão e atirar-se a uma prática reeditada e já condenada ao longo da história.

Praticamente todos os médicos que fazem jus a este nome, empresas, entidades e órgãos envolvidos com diagnóstico e tratamento dessas doenças estão isentos de qualquer interesse em deixar de oferecer o melhor tratamento, ou a própria cura se houver. Nos meios médicos este não é um assunto que seja sequer ventilado entre colegas ou em congressos científicos de Medicina, qualquer que seja a especialidade.

Nesta breve série vamos desvendar de forma objetiva o charlatanismo na Medicina, desde suas bases históricas até mostrar maneiras de como você deve se proteger. As referências da literatura com links para os sites da Internet você encontrará ao final. Esperamos que você possa repassar para o maior número de pessoas.

  2 comments for “As fraudes na área da saúde: como se proteger do charlatanismo disfarçado de medicina alternativa, 1a. parte.

  1. Luciana
    1 de fevereiro de 2019 às 00:07

    Excelente abordagem do tema. Compartilho.

    Curtir

  2. Clara Ester Trahtman
    1 de fevereiro de 2019 às 00:57

    Excelente artigo, Carlos! Muito importante sua divulgação! Um abraço

    Curtir

Deixar mensagem para Clara Ester Trahtman Cancelar resposta