A tecnologia e os valores humanos da Medicina

Público alvo: técnico e leigo.

O grande problema da medicina clínica é a confiança que se necessita estabelecer na relação médico-paciente. Ou o médico é um ótimo ator e tem grande competência técnica, ou o encontro clínico não terá os resultados como se gostaria.
Entram em jogo aqui os efeitos placebo e nocebo. Uma pílula de medicamento não é uma pílula qualquer, igual a milhões de outras produzidas pelo laboratório. Uma pílula é sempre o medicamento mais a expectativa do paciente após o encontro médico. Em outras palavras, é a pílula farmacológica mais o médico que o paciente está engolindo naquele momento.
Vendo o paciente
De fato, médicos falam de “ver” pacientes, enxergar a profundidade de suas queixas, sua vida e sua alma. Recente editorial no Wall Street Journal chamou a atenção para o fato que o curso de Medicina nada mais é que uma série de lições visuais: desmembrar um cadáver e dissecá-lo até que se pareça com lâminas do Atlas de Anatomia, conferências sem fim em que órgãos humanos interconectados são mostrados como máquinas e esquemas.
E o problema se torna claro: o médico perde o foco, seu ato de ver se estreita no paroxismo, passa a ver o corpo como uma coleção de partes e perde a noção da pessoa à sua frente.
Parece ser um fato que médicos treinados em áreas humanísticas – e há vários médicos músicos, por exemplo – têm uma compreensão inata do paciente como um todo. Desde Hipócrates (400 AC) gerações de médicos foram ensinados a procurar compreender pacientes a partir das forças benéficas e deletérias em sua vida, seu contexto familiar e social, trazendo o balanço para o lado da saúde.
Pacientes se tornaram números
No entanto, por mais de 100 anos a tendência da Medicina vem sendo a de ter médicos cientistas, grandes utilizadores de avançadas tecnologias (modernos antibióticos, equipamentos de imagem sofisticados, procedimentos invasivos os mais variados, cirurgias robóticas). E os médicos responderam a este chamado como seria de se esperar em mentes despreparadas: afastaram-se do paciente, de sua compreensão como ser humano.
Os pacientes viraram um relato de caso, números, estatísticas, rotulados por códigos métricos e índices os mais variados.
Como aceitar uma consulta de poucos minutos em que o médico olha apenas para a tela de seu computador, como me relatou uma cliente? E não apenas o paciente sai frustrado, as consequências vêm para o lado do profissional também, com vários médicos abandonando a medicina clínica, fazendo concursos, trocando de profissão, partindo para cargos administrativos e outros afazeres.
Pergunte a um médico se ele aconselharia seu filho a fazer Medicina nos dias de hoje.
O futuro no passado
A comunicação entre médico e paciente deve voltar a ser humanizada e madura, com a compreensão aprofundada de cada pessoa que se apresenta com seu sofrimento. A tradição médica é a do profissional que olha seus pacientes nos olhos e chega à profunda compreensão de sua dor e sofrimento. Conforme Hipócrates:

“Curar algumas vezes, aliviar outras, consolar sempre”.

Perseguir situações como as da frase acima são dever do MÉDICO, em maiúsculas.

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